segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Carol e Gustavo: todo amor nasce de uma metáfora



 Prólogo
A testa brilhando de suor - porque ela dançou e não foi pouco - faziam moldura para sorriso misturado com lágrimas, batom vermelho quase intacto e um exemplar de "Um  ônibus do tamanho do mundo" aberto entre as mãos. Ela apontou para o escrito na primeira página: quando eu conheci Gustavo, ele era um nome num livro, disse. 

Carol marotamente fazia caras, caretas, balancinhos de pés e ombros a la Betty Page. Posava para fotos, muitas fotos, parecendo confortável no papel de noiva como se casasse toda semana.
Eu ali do lado e ela pediu de volta a taça de espumante mas, por mais que eu tenha me preocupado com o fato da bebida já não estar mais tão gelada, ela pediu a taça de volta e virou como se fosse whisky cowboy e fez o copo aterrissar na palma da minha mão. Em um segundo ela não estava mais lá porque saíra correndo, saltitando ou mesmo flutuando levando atrás de si um grupo de pessoas que a queriam. Todos a queriam. Acontece isso: certas pessoas são irresistíveis.

Como tudo começou   
A primeira mensagem que Carol me mandou foi pelo Whatsapp. Era um sábado, passava de 1 da manhã e chovia muito. Ela resumiu a loucura em poucas palavras que eram mais ou menos assim: "Oi Prill, sou amiga da Carol Bit e vou casar em 20 dias". Meio dormindo, meio acordada, meio amamentando, sem fazer ideia do por que o celular estava na minha mão, li o que ela escreveu e desmaiei pra somente no dia seguinte sacar que as mensagens não tinham sido um sonho. Catei novamente o telefone pra reler e foi apenas aí que a sinapse explodiu: WHADARRÉL? CASAR EM 20 DIAS???
Respirei, cantei Harebo, cantei Enya, tentei keep calm e respondi pedindo maiores informações sobre o lance. Em 10 minutos já estávamos trocando áudios bolados e atropelados falando de docinhos, DJ e vestido como se não houvesse amanhã, mas bem... era domingão, tinha que ir pra tradicional reunião de família ao redor do frango assado e parti mas confesso que, apesar de ter desligado o telefone, passei o resto do dia ruminando aquela história toda de casamento na casa de uns tios, noivo que curtia football americano e ela que era da vaibe poás e Mad Men.

A ideia da Carol e do Gustavo era suave. Eles tinham planejado um casamento só no cartório mesmo seguido de um almoço em família com zero pirotecnias e sem coisas estruturadas. Mas o que esse casal tijucano não sabia era que o espírito dos casamentos é um espírito mal do Oeste que se manifesta quando  você diz três vezes na frente do espelho: "vamos só assinar no cartório e fazer um almocinho com a família pra não passar em branco". Nunca faça isso! Nunca! Eles fizeram e deu no que deu.
 
 
Nos primórdios de tudo, era pra ser uma reunião de 20 pessoas mas, com o gentil oferecimento da Tia Neide, que tinha uma casa bacana e era acostumada a dar festas, dava pra esticar um bocadinho mais a lista né? Assim como os gremilins se multiplicam numa chuva de verão, a coisa saltou para 40 pessoas, depois para 80 almas, depois para 120 e aí a gente chegou naquele ponto em que você precisa ou ter muita coragem ou não ter nenhum juízo. Ir em frente ou desistir? Mas desistir não era uma opção porque Carol e Gustavo não são desses e também porque havia muita coisa familiar em jogo. Então o jeito foi aceitar que eles iam cair, mas iam cair atirando. Pra pelo menos dar um respiro, a data do casamento foi passada para alguns dias depois do casamento civil e essa correção de calendário nos deixava o total de magníficos 40 dias para preparar tudo ao invés de 20. HMMMMM!!

A Carol, agora oficialmente bridezilla, correu para ver vestido, sapato, comida e convites. Eu corri pra conhecer a casa da Tia Neide e finalmente ter contato direto com aquela moçoila que eu mal conhecia, mas já considerava pakas.
Nos encontramos à beira da praia numa tarde cinza de maio. Eu super nervosa, na maior expectativa por estar saindo de casa pela primeira vez sem o bebê - tipo, sem ser pra ir na padaria e voltar -e parte de mim queria saltar do ônibus enquanto a outra metade queria correr louca pelas ruas gritando me dá cervejaaaaa. Vale deixar registrado que esse momento humano e intenso acontecia no meu peito enquanto o celular dum cara no ônibus se esgoelava cantando: estou indo embora/ a mala já está lá fora. Essa música. E ela tocou. No repeat. Por 1 hora.

- Vai ser super fácil me encontrar. Tô com uma camisa preta com um coração de lantejoula gigante na barriga. Eu tô tipo... saí dos Ursinhos Carinhosos
Ri loucamente quando, alguns minutos de trânsito parado depois (obrigada Barra da Tijuca), lá estava ela com sua indumentária jogando arco-íris pelos ares e deixando tudo mais maneiro, me esperando na calçada do condomínio da Tia Neide. Dissemos olá!, nos abraçamos e foi fácil superar aquele momento esquisito quando a gente não conhece a outra pessoa porque lá saímos pela rua engatando os mesmos assuntos das mensagens de texto como se nada tivesse acontecido, como se não tivéssemos acabado de nos esbarrar no meio da rua. Sim, acho isso muito louco.

Os donos da casa eram um casal de senhores muito sacudidos e foram super gentis em mostrar todo o espaço em detalhes enquanto enumeravam o que dava e o que não dava certo nas festas que rolavam lá. Pouca gente sabe, mas casamentos em residências tendem a dar mais certo quando o local possui os seguintes lances:
- espaço suficiente pro número de almas convidadas, 
- espaço extra (se você for colocar photobooth, open bar, essas coisas)
- possibilidade de guardar móveis pré-existentes, 
- mais de um banheiro, 
- principalmente, uma cozinha espaçosa. 
 A casa da Tia Neide tinha tudo isso, era um sonho duma noite de verão mira mira, e só precisávamos de alguns ajustes mínimos pra fazer o negócio funcionar. É claro, todo mundo que começa achando que vai ser fácil se ferra né? Não seria diferente com a gente.


Antes do antes acontecer
Carol conheceu o Gustavo porque tinha o nome dele nos livros dela. Fico imaginando ela pequena e agitada, sorrindo com aquela boca de coração, às voltas com objetos que antes tinham sido dele. Livros? Brinquedos? Mais o que? Quando penso nisso me vem um abismo embaixo dos pés porque você percebe como o destino, os sonhos e as lutas das pessoas conduzem todas as histórias. A mãe do Gustavo tinha três meninos e simplesmente não conseguia resistir a filha única da cabeleireira aparecendo sempre com um lápis, uma ajuda com o uniforme da escola, um brinquedo novo, um brinquedo dos filhos. A menina crescia e a mãe da menina, que tinha que levar a vida sozinha no peito e na raça, podia contar com aquela madrinha que sempre estava por perto para todo apoio. 
Foi a madrinha quem colocou pressão e incentivo pra prova do Pedro II e, obviamente, nossa heroína, passou, entrou pro colégio e carimbou seu ticket to ride rumo a uma vida muito do que qualquer um que olhasse rápido pra sua história diria que ela poderia ter. 
A escola passou. O vestibular passou. A UERJ chegou e, com ela, aquela parte zuada em que a gente precisa fazer um estágio. Mas chegar assim no estágio sem ter noção de nada? Carol precisava de uma força. O filho da madrinha podia ajudar? Sim! O Gustavo do nome do livro, ele mesmo. Ficaram super amigos. E foi e era ele. O imponderável decidiu que seria assim.

Ela tinha muitas ideias pra decor e rapidamente montamos uma prancha marota no Pinterest. O problema era que a grana tava curta e precisávamos tomar algumas decisões sérias para fazer o sonho caber tanto no saldo bancário quanto no tempo disponível pra quitar tudo. 
A primeira coisa era o serviço. Ao invés de fecharmos Assessoria, Decor e Cerimonial, a Carol ficou com a parte burocrática do casamento - aproveitando a experiência que tinha em planejamento de eventos no trabalho - e eu fiquei com a parte criativa, dando uns pitacos no fechamento dos serviços na brodagem. A segunda coisa era o aluguel dos móveis, que comeria a maior parte do budget que a gente tinha. 
Pra otimizar a vida e usar aquela pica a nosso favor, apresentei pra Carol a ideia de usarmos móveis azul marinho e compor tudo com objetos de cena vermelhos e listrados p&b, que era uma parada que ela curtia. Assim a gente, ao invés de investir em cadeiras marrons ou brancas que não fariam lá muita diferença visual, poderíamos pontuar o cenário com uma cor vibrante. Ela desconfiou. Eu falei, miga, vem comigo. Ela disse seja o que Deus quiser. E daí batemos o martelo jogando dourado em cima de tudo porque dourado é amor. 

Fomos defender nossa paleta no Saara. Tinha que comprar uns itens maneirinhos de composição e as famigeradas forminhas. Meu deus, a gente andou pra cacete aquele dia! Tudo culpa minha que cismei com uma loja mas a dita cuja tinha mudado de endereço :( Sorte master ter a noiva levando tudo na esportiva enquanto eu pedia um milhão de desculpas. Compramos forminhas, saia para cupcakes, velas, paradinhas douradas, pompons e mais um monte de bugiganga. A gente saiu com as lojas fechando atrás da gente, lembra? Falamos pra caralho caminhamos por aqueles becos. Era aparelho de dentes, peitos vazando, boys, profissão, sobre coisas bestas, sobre coisas sérias. Falamos sobre a morte da sua mãe e da sua avó e você me explicou sua visão de mundo: uma família de verdade se faz com escolhas diárias para estar presente na vida do outro e que isso nenhum laço de sangue vai poder construir. Falamos sobre solidão, sobre drinks e você me fez sentir saudades de bailes funks da Tijuca em que nunca estive mas que, tenho certeza, precisava ter estado. 
Tudo isso acontecia enquanto, lá fora no mundo real, os táxis ignoravam a gente pulando no meio fio com mil sacolas.

 

O despertar da força
O maior problema que tínhamos de enfrentar na montagem da decoração era a impossibilidade de retirar/mover alguns objetos e móveis da casa que ou eram muito pesados ou não tinham como ser guardados. Chegamos no dia 25 de abril com uma previsão de 150 convidados e, com a galera toda confirmando e tals, cada micro pedacinho da casa que a gente perdia era uma lágrima de sangue que vertia pela minha cara. Para contornar o drama, escondemos algumas cadeiras atrás de um biombo e trabalhamos com a ideia de oferecê-las aos convidados caso de fato as 150 almas comparecessem. 
Os noivos estavam circulando pela casa durante a montagem num clima bem me-larga-to-de-bouas e foram levando as coisas pessoais que seriam usadas na decor, lembrancinhas, roupas, docinhos e bolo feitos pela confeitaria da família do noivo (alô Lecadô! alô coxinha!). Depois de tudo desovado, Carol rumou pra o local onde se montaria e Gustavo ficou por lá dando um gás no departamento comes. Foi somente depois de dar uma relaxada nos afazeres que este nobre senhor olhou ao redor e se entregou a nobre tarefa de xoxar nossos DIY - eram várias bandeirinhas e pompons tipo líder de torcida - o que me levou a fazer algumas pequenas modificações no projeto  #denuncia. Sim, Gustavo, eu quis te matar. Mas beleza, sei que você também quis me matar, mas hoje somos BFF me abraça! 
Pra cobrir partes que ficaram meio vazias, o Gustavo acionou os pais pra que eles levassem mais alguns itens - como quadros, fotos e etc - dele e da Carol para usarmos na composição.
Show! Tudo certo! Tudo montado! Corri para me arrumar também e posicionar as coisas para o cerimonial. Não teríamos cortejo mas, como se tratava de um casamento doméstico, as pessoas poderiam ficar um pouco confusas sobre como as coisas ocorreriam. Dei uma acalmada nas crianças e fui receber a noiva que chegou absolutamente divina,  pontual com seu batom russian red, animadíssima. Mostrei umas fotos de como estavam as coisas e entreguei o buquê boho de cáspias super delicado feito pela Arajany. Arranjamos no caule uma fotinha da mãe da Carol e começamos a aguardar os pais do noivo com os itens mas, como já ficou claro, casamento é ímã de eventos absurdos aleatórios e daí que nesse mesmo dia em que Carol e Gustavo uniriam suas vidas em matrimônio, tava rolado APENAS UMA CORRIDA DE RUA da Nike que fechou todos acessos ao condomínio. Só isso.

Mas o que são essas questões quando você tem um Arco íris de energia ao seu lado - e caipirinha, claro? Nada, amigos! Sob as bênçãos do noivo, liberei o buffet para servir a galera porque geral italiano e ninguém podia passar fome não. Abastecidos de álcool e amor, todos puderam esperar confortavelmente a chegada dos pais do noivo. A partir daí, foi como tinha de ser.

Carol entrou pelo salão lotado. Em slow motion você via a cara das pessoas de queixo caído porque ela vinha com seu visual pinup saboreando cada pedacinho do momento sem pressa, com toda a atenção, deixando transparente para quem quisesse ver seu enorme coração vulnerável, intenso, paciente. Era cada passo que a Carolina dava para encontrar um Gustavo que jamais vamos conhecer - porque ele é mistério - mas a verdade é que, para o que ali estava virando dois, as explicações para o resto do mundo eram desnecessárias. Do nosso amor a gente é quem sabe.... exatamente isso.

Nos encontramos novamente no segundo andar da casa e nunca vou poder esquecer essa cena, esse pedaço de vida que aconteceu. Você chorava. Alguns amigos seus estavam lá e você os abraçou um a um. E você lembrou do dia do funeral da sua mãe e de como a casa tinha ficado totalmente vazia e silenciosa, como você tinha ficado só. Não lembro bem como foi que terminamos abraçadas também, só consigo falar agora do que senti naquele momento e a conclusão é que não posso te perder, garota. Não havia nenhum profissional ali cuidando da noiva naquele momento e quero que você saiba disso, saiba que aquele abraço foi uma das coisas mais marcantes que já me aconteceram e o que eu queria era catar pra mim um pouquinho do seu mundo e dar um pouquinho do meu pra você, com útero, trapalhadas, áudios gigantes no whatsapp e episódios do Ru Paul. Leva tudo! Só preciso que você me deixe ficar por aqui te olhando mesmo que de longe, mesmo que tendo notícias pelas timelines do mundo.
Todo mundo chorava demais, desesperadamente e ainda bem que o Gustavo tomou posse do orixá Scarface que lhe caía bem, bateu palmas e gritou VAMOS PARAR DE CHORAR PORRA! Porque estávamos realmente precisando voltar a vida, sair do círculo de coisas que ficam se repetindo na nossa cabeça pra olhar pra frente e andar sem cair. O Gustavo é a pessoa que não deixa a gente se afogar.
Voltamos para a festa.

Muita comida, muita bebida, muita música, muitas fotos.
A decor reuniu circus, nerdices, livros, paradinhas geeks, anos 50, luzinhas, glitter e Star Wars pra todo lado... tudo isso junto por um único motivo: porque a gente pode.
Lá pelas tantas, os vizinhos começaram a reclamar do som mas, queridos, ninguém se fez de rogado e colocamos a festa toda pra dentro. Orquestrados pela noiva - que foi ao microfone dar a notícia - os convidados afastaram as cadeiras e mesas que se tornaram completamente inúteis quando começou a tocar Mc Marcinho.
Teve também aquela parte em que Darth Vader chegou em pessoa e todo mundo enlouqueceu. E como vamos esquecer do botijão de gás hélio compartilhado pelos convidados para deixar mensagens de felicidades aos recém-casados na frente de uma Go-Pro? Pois é.. vocês estavam todos bêbados mas eu vi tu-di-nho!

A desmontagem da festa terminou comigo e Carol mortas sobre o super explorado sofá da Tia Neide. Joaquim mamava, você já estava com o pijama da Princesa Leia e nós duas conversávamos...  sobre o que?
Tínhamos uma vida em frente pra gente viver e não fazíamos ideia de como ela ia ser, mas ninguém queria pensar a respeito porque havia muito êxtase e muito cansaço envolvido.
Foi uma loucura, concorda? Mas fizemos e foi lindo. Foi, principalmente, subversivo porque teve tanta parada pra derrubar nossos planos, tantas palavras duras e tão pouco tempo pra pagar a conta... Mas sinto que rolou um acordo implícito entre nós, de que faríamos o que tivesse de ser feito e aguardaríamos a desforra, a zueira sem limites, a Força, o Lets Dance do Bowie.
Escrever sobre tudo o que passamos naqueles infinitos 40 dias era necessário. Precisava ficar registrado em algum lugar tudo o que passamos e tudo o que somos. Existe essa coisa esplêndida que é a forma como lidamos com os absurdos de vida e de morte presentes em todos os dias. Apostar no amor e na amizade podem ser coisas que as pessoas falam como um clichê ridículo, mas uma coisa a gente sabe: existe peso sim, mas existe muita glória e vida quando a gente é quem a gente quer ser junto de quem a gente quer estar. Sem reservas, somente escolhas: assim criamos histórias e laços, assim criamos nosso mundo.  


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Cerimônia e festa: casa de familiares dos noivos || Buffet: Maria Luiza Buffet || Bolo e doces: Lecadô || Cupckes: Morena Flor Doceria|| Open bar: Fernando Barman || Vestido da noiva e véu: Ateliê Maria Figueira || Buquê: Nega Fulô || Convites: DIY || Flores da cerimônia e da festa: Nega Fulô || Mobiliário: Mineirart - Locação de Móveis || Itens de suporte e cenografia: Decoranda + Empório Alecrim - Decor, Design Floral & Gastronomia + Empório Felicitá || Lembrancinhas: Fotocabine + Moleskine do Yoda da Dona Amélie + Polaroides || Convidado especial: Darth Vader

Cerimonial e Decoração: Vou Casar e Panz || Artesanatos: Bianca Bringel (minha ex noiva prendadíssima!) || Fotografia: Larissa Margulies . Fotografia || Filmografia: Wonderland


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