terça-feira, 7 de agosto de 2012

Noiva recessionista? WTF...?! [novas reflexões sobre esses seres polêmicos]

Juliana e Erik, os lindos eternos no casamento recessionista em Las Vegas
Mamilos são muito polêmicos
É engraçado como falar de "noivas recessionistas" ou "casamentos recessionitas" consegue provocar reações tão apaixonadas. Digo apaixonadas no sentido visceral da coisa, sabem? Seja a noiva em questão falando, sejam os profissionais, todas as declarações são sempre intensas e todo mundo tem algo a dizer a argumentar, a protestar, é um negócio de louco!
Particularmente porque sou uma das partidárias - fui uma noiva recessionista e atendo constantemente noivas que buscam não ter de rodar bolsinha em Copa pra casar -, sou sempre sempre sempre confrontada com o tema e me vejo alí louca tendo de esclarecê-lo e, bem... como saí da academia mas a cademia não saiu de mim, me pareceu impossível não parar e tentar expor pra vocês aqui no blog minhas teorias. Espero que essa reflexão possa contribuir pra uma abertura de cabeça pras noivas, pros fornecedores, pro mercado e pra mim mesma.

Recessionista? Uadarrél?!

A coisa mais pateticamente óbvia e necessária a se dizer a respeito é que recessionista é um termo originário de recessão. Mas embora a palavra soe bem no português e se pareça realmente uma palavra do nosso idioma, "recessionista" vem do inglês, de recession. Pontuar isso tem uma importância do cacete, amigas, porque é a partir daí que a gente começa a puxar a origem do conceito e sua aplicação no mundo casamentístico brasileiro.
Foi a partir da crise financeira/imobiliária de 2008, quando os americanos se viram tocando violão na rodoviária pra comprar o almoço, que o mercado de casamentos gringo foi dar num dilema: as pessoas querem muito casar, a maioria delas é jovem e começando agora sua vida financeira, a América tá em crise, o que faremos agora? Bem, eles não fizeram porra nenhuma. No meio do desespero, quem conseguiu se salvar da falência foi atrás de quem podia continuar pagando pelos serviços e o restante dos casais foi empurrado ou para a busca de soluções que viabilizassem casar sem virar mendigo ou para a desistência do ritual.
Essa onda de DIY, de sustentabilidade, de mini casamentos e mesmo as novas concepções sobre o que é o casamento - que, falando de maneira bem resumida, gira em torno de "o casamento é a celebração do amor do casal e deve traduzir sua visão de mundo, deve ter a sua cara" - tá tudo interligado e vem daí.

O termo recessionista bride, que ganhou força entre 2009 e 2010, era uma expressão que traduzia todo o conjunto de medidas e atitudes tomadas por essas noivas (de classe média, importante dizer) decididas a investir em um supérfluo - cujo valor, o valor capital, é plenamente simbólico - mas respeitando um determinado teto máximo de gastos. Devemos a maioria de nossas noções pinterésticas do casamento e a garra de peitar todo mundo pra fazer do jeito que der pra fazer, do jeito que vai nos fazer felizes, à essas corajosas filhas da recessão: elas desbravaram a ideia de que envolver amigos e familiares na celebração + ter por perto somente os mais íntimos + desafiar-se a baixar as expectativas diante da perfeição + meter os peitos você mesma não apenas tornava tudo muito mais significativo, como ajudava a tornar o sonho financeiramente viável.

Noiva recessionista x Noiva descapitalizada
Bem, mas agora vou falar uma coisa que vai fazer muitas de vocês me acharem uma louca incoerente, senta aí e se prepara pro Batman Slap: quem não tem dinheiro não casa. 

O casamento custo zero não existe, gente. Se não for você nem seu boy a pôr a mão no bolso, será alguém, será uma vaquinha da internet e o preço, por mais que não atinja patamares Kardashianos, nunca será barato. Por outro lado, o que o mercado joga na nossa face é uma superinflação na hora de cobrar por todo e qualquer serviço relacionado ao assunto porque você é noiva e porque noivas são como unicórnios amaldiçoados; por onde vão caminhando tudo fica extremamente caro. Ou seja, o bagulho já não é barato e nêgo ainda fica pressionando pra que ele saia ainda mais caro seguindo a lógica  casamento é um sonho -> sonhos não tem preço -> somos responsáveis pelo seu sonho -> colocaremos esse valor aqui lá no céu pra tentarmos chegar perto do preço infinito real dos seus desejos.

É aí que entra a coisa do casamento recessionista, cara e tenho usado esse argumento sempre que me questionam o recessionismo, sejam fornecedores ou noivos: a chave de tudo está na racionalização e na otimização dos gastos.  O casal deve estar ciente de que terá de arcar com uma determinada quantia mas mantendo um foco de que essa grana não pode sair destruindo sua vida, afogando todo mundo em dívidas. O casal também deve ficar ligado que a grana pro casamento não precisa, nem deve, atrapalhar outros planos importantes como a casa nova, a escola das crianças ou aquela viagem que vocês nunca fizeram. Esse casal estabeleceu prioridades e tá afim de adaptar suas expectativas ao que der pra fazer, usando de muita criatividade  e planificando os gastos.

Ah Prill, por isso não fecho com você, não quero associar minha marca a noivas pobres. Minhas nêgas, fico muito putinha quando ouço essas coisas... a verdade é que nunca sei o que um fornecedor quer dizer com "noiva pobre", se é dizendo que a mulher não tem dinheiro, se é dizendo que ela tem mau gosto... Só me vem à mente o paradoxo master chamado casamento de Belo e Graycianne.

http://i1.r7.com/data/files/2C95/948F/3762/1F60/0137/632D/81BC/7E99/casamento-gracyanne-belo-g-20120519.jpg
can buy me love?
Há uma imensa diferença entre a noiva descapitalizada, a noiva recessionista e a noiva de mau gosto.
Se já concluímos que não existe casamento à custo zero, então está subentendido que a noiva descapitalizada não vai casar (ritualistica e festísticamente falando), vai simplesmente pegar seu bofe e se mudar pro puxadinho que estiver disponível. Foi assim que eu e o Rafa realmente nos casamos, como já contei aqui no blog um dia. Outras opções a esta senhora são 1) se endividar, embarcar num kitfesta e comemorar bodas de prata ainda pagando o casamento e 2) esperar 1348634 anos pra se casar, tempo em que estará juntando cada real a ser investido no pleito nubente o que, na minha cabeça, é bizarro porque prioriza o ritual e a festa ao invés de priorizar a vida em comum (se você possuiu uma religião que te impede de simplesmente ir morar junto, aí são outros quinhentos).

A noiva de mau gosto... bem, ela simplesmente tem mau gosto e não há dinheiro que dê jeito.

Já a noiva recessionista tem uma grana. Não vou dizer pra vocês que ela tá nadando em dinheiro, mas ela e seu boy têm um plano. Talvez este plano seja gastar todos os 15 mil que eles têm. Talvez seja gastar 15mil no casamento e 30 numa viagem à Tailândia, talvez seja gastar 50 no casamento e 250 na entrada da casa. Não importa, o que interessa é que a noiva recessionista é fã da Angela Merkel e quer continuar honrando seus gastos diários nem que pra isso precise adotar algumas medidas de austeridade no seu casamento como, por exemplo, substituir a orquestra do corjeto pelo iPod, abrir mão das lembrancinhas ou beber Itaipava o invés de Heinecken. No casamento recessionista ninguém se lança em gastos irracionais nem maiores que a perna. 

Enfim, o casamento recessionista é um casamento com limitações de gastos e qual será esse limite, bem, isso varia de casal pra casal. Como fornecedora que sou e como noiva que fui, não vejo problemas em vestir essa camisa, em colocar a faca nos dentes. Acho que essa coisa de cortar custos nos trouxe muitas e muitas coisas boas, acho que os casamentos se tornaram muito mais criativos e que as pessoas têm se envolvido muito mais na feitura da coisa toda. Também acho que as noivas ficaram mais criteriosas a respeito de suas escolhas, que se tem feito muito mais pesquisa de mercado e que o diálogo entre elas tem ajudado muito não só na hora da economia, mas na hora de baixar as expectativas de Princesa Disney pra ir viver uma história que é sua e que é real. 

Não sinto nenhum desconforto de trabalhar pra essas noivas, sinto desconforto é de trabalhar com quem não quer nem saber quanto custa, quero é esbanjar, toma aí essa grana e me casa. Não sei lidar com isso não. 
Também não faço milagres como vocês gostam de dizer! (rysos) Acho que eu e minhas clientes vamos trilhando um caminho e decidindo o que pode sair e o que não dá pra abrir mão, valorizar o que vem depois, a vida em comum que se quer construir. Racionalizar o lance pero sin perder la ternura jamás. 

Se você é dessas, então a gente tá junta nos Sete passos para se tornar uma noiva recessionista, tradução/adaptação (minha mesmo) do texto de mesmo título do Intimate Weddings. Ele guiou meu casamento e taí podendo inspirar o seu. SÓ DICÃO.

1. Uma lista de convidados curta - Uma noiva recessionista reduz sua lista de convidados. Ela convida apenas pessoas que são importantes para ela. Se ela não vê sua amiga Cheyla há 5 anos e que nunca nem telefona, as chances são de que ela não esteja na lista. E ela não convida ninguém só pela coisa da obrigação (só porque Sheylla, te convidou para o casamento de seu cabelereiro, não significa que você tem de devolver o favor). Colegas e parentes relativamente distantes muitas vezes são deixados de fora.

2. DIY (Faça você mesma, sua linda) - Com apenas poucos cliques do mouse, a noiva recessionista aprende a fazer desde os arranjos de mesa até as lembrancinhas. E se ela não leva jeito para artesanato, ela providencia a apresentação do seu projeto para amigos e familiares mais prendados.

3. Regatear
- A noiva recessionista economiza é na negociação com seus fornecedores. Se ela percebe que o vendedor está precisado de clientes, ela não tem medo de lhe pedir um preço melhor ou de incorporar alguns bônus ao seu pedido.

4. Flexibilidade
- A noiva recessionista sabe que o sábado a noite é o dia mais procurado para casamentos, e que também é o mais caro, por isso ela está disposta a fazer o seu casamento em uma sexta-feira, num domingo ou até mesmo em um dia de semana.

5. Segunda mão
- Ela vasculha o Mercado Livre, o Orkut e o Ebay em busca de itens de casamento usados, porém honestos. Se ela curte um lance vintage, então ela vai dar uma olhada em brechós ou em sites como o www.vintageous.com. Ela também usa redes sociais para caçar fotógrafos, bartenders e outros profissionais que estejam dispostos a trabalhar dentro do seu orçamento. Ela é ainda uma noiva esperta e que corre rápido ao menor sinal de falta de profissionalismo ou de má fé.

6. Priorizar - uma noiva recessionista conhece suas prioridades. Ela só desenvolve psicoses por coisas que sejam importantes para ela. Se ela é aficcionada por boa comida e uma iguaria, uma degustação é indispensável para ela, então ela está disposta a cortar itens antes planejados. Isso pode significar que ela usará uma seleção bacana no Ipod ao invés de um DJ, ou imprimir seus próprios convites ao invés de mandar fazer um em caligrafia personalizada.

7. Desenvoltura - Ela faz uso dos muitos talentos que encontra em seu círculo de amizade e entre os familiares. Se sua tia é pianista, ela lhe pedirá para que toque durante a cerimônia, se sua cunhada é designer gráfico, ela irá contratá-la para desenhar os convites. Uma noiva recessionista sabe que ter aqueles de seu afeto envolvidos na feitura do casamento não só corta custos, como transforma o momento em algo muito mais cheio de significado.

11 comentários:

Anônimo disse...

Maravilhoso! Prill, até que enfim alguém entendeu/explicou que ninguém precisa esbanjar o que tem e o que não tem, que ser uma noiva recessionista é uma questão de escolha e de bom senso diante de outras prioridades na vida. Amei!
Só acrescentando: na prática a gente sempre passa um pouquinho do valor estimado inicialmente, mas não deve ser algo que nos afunde, né! Beijos

Milly Cardoso Cerimonialista disse...

Ficou irado, acho que a gente deve ter o que pode tentar dar um jeito no que num pode, e o que num der mesmo cortar, usar muito dy fazer com amor e não desistir ao primeiro "-Isso é loucura, não vai dar certo". Seus posts são demai! Beijos!

lika.luciana disse...

É isso ai!!!
Casei dessa maneira, racionalizando os gastos,com muito DIY, poucos convidados (pessoas que REALMENTE gostam da gente) e muito amor! Foi ótimo e não me arrependo de nada!!
Abaixo a industria do casamento, que suga seu cérebro e dinheiro.

Larissa Rique disse...

Adorei Prill, e lendo isto posso dizer que fui uma noiva recessionista. Sempre quis casar com tudo que tivesse direito, mas "tudo que tem direito" pra mim é o simples e bonito. Combinei com meu então noivo que não gastaríamos além do necessário, justamente pra não começar nossa vida com dívidas, coisa absurda pra mim. Apesar de amar festas, procurei ter o pé no chão pra não me perder dentre fornecedores que acham que somos ricas, bati o pé muitas vezes pra fazer o que eu queria, mesmo quando olhavam pra mim com olhar torto de: "você só vai convidar tantas pessoas?", "você só vai fazer tantos arranjos?", "Você não vai fazer dia de noiva?". Na boa, curti muito mais minha lua de mel e gastei menos de um terço do casamento em 5 dias magnificos, o que não quer dizer que eu me arrependi da minha festa, pelo contrário, morro de saudades. Mas, se fosse hoje, economizaria ainda mais e viajaria ainda mais, e olha, que garanto que economizei MUITO no meu casamento. Desde colocar a mão na massa pra fazer quase tudo, do convite ao bem casado, a pechinchar com todos os fornecedores ( e ganhar desconto com todos praticamente ) e parar de ficar "viajando" nas um milhão de coisas que podem colocar num casamento e aumentar o preço astronomicamente. O pior é que no meio de tanta festa e ostentação, acaba se esquecendo o valor do amor, como vc bem colocou, qual logica de esperar anos pra se casar, só pra esperar a festa?

Daiene Medeiros disse...

Oi Prill,

Estou fazendo meu casamento com um "tight budget" e seu blog está sendo mesmo como um guia pra mim.
Levei a máxima a dica "DIY, baby!" e estou fazendo praticamente TUDO no meu casamento.
Caso-me no dia 1º de Setembro, então, assim que passar a data e todas loucuras envolvidas, envio-te um email com fotos e, quem sabe, algumas idéias pra outras noivas recessionistas como a gente.

Um beijo!

Nathalia Hanami disse...

Xiiii, acho que sou uma noiva
recessionista... rs
Mas com orgulho!!
Tenho economizado muito com tudo, desde a decoração (que o saara está aí para isso, hehe) até convites (onde eu mesma os faço).
Ser recessionista é o que há hoje, né??
Porque pagar muitos mil em um casamento e não ter nem onde morar não rola! Amei seu post.
beijo

Denise disse...

Eu comecei a ler teu texto não gostando, e terminei amando, kkkkk!
Me enquadrei direto nesse perfil!
Além, do que, as festas menores não precisam ser menos bonitas, né?
bj,
Denise

Pris disse...

Cara, amo seus posts. Achei incríveis suas colocações e concordo plenamente. Minha família está louca com minhas ideias recessionistas, minha avó fala que o que eu penso não é casamento. Mas eu e meu noivo estamos focados na nossa casa e na nossa vida pós festa de casamento. Queremos muito comemorar essa nova etapa, mas sem prejudicar nossa vida futura. Como ainda tenho tempo, quem sabe ter o prazer de ser sua cliente? Seria ótimo! Bjs

Nastassja disse...

Olá Prill,

Achei muito legal esse seu post (aliás, acho que me encaixo nessa definição rs). Você teria um e-mail que eu pudesse entrar em contato?

Beijos!

Suellen Pimenta disse...

Sabe aquela coisa engasgada na gente e que de repente você vê pronta por aí? Bom, foi esse meu sentimento ao ler (e reler) essa postagem. Me senti desvendada em todos os sentidos quanto ao que penso e quero do meu casamento.
Quero até pedir permissão pra, se não for pedir muito (porque eu ficaria com ciúme se tal obra prima fosse feita por mim rsrsrs), posso postar no meu blog? Ele é bem mais modesto e nem sei se alguem chega a lê-lo, mas tenho alguns fornecedores seguindo-o (olha a tática). Será devidamente creditada, claro.
Um beijo e, parabéns!

Unknown disse...

Nêga, como é que você me descreveu tão bem? #chocada aqui.kkkk
Tava tentando desenvolver um nome pra o meu tipo de casamento e não encontrava de jeito nenhum. Nada chegava nem perto do que eu tava pensando. Show de bolo. Depois desse post aqui sou uma noiva recessionista since 1983! Valeu demais negona!

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