Outro dia (ok, não foi outro dia, já se vão uns 3 ou 4 anos isso aí) eu e a Isabelle estávamos no Centro do Rio e tivemos uma ideia brilhante: ir a todos os bares do Arco do Telles tomando uma cerveja em cada um. As únicas lembranças nítidas que tenho desse dia é que em algum momento coloquei adoçante na batata frita, que não conseguimos ir a todos os bares e que, horas depois, estávamos na estação das barcas de Niterói abraçadas cantando Je ne regret rien.
Teve também aquela caminhada de 16 horas em Florianópolis indo... pra onde? Fazia um frio absurdo e bebemos Country Wine. Aqueles dias foram loucos. Em atividades mais produtivas, pesquisamos juntas a escravidão no Brasil Império, fomos ao show do Caetano, compramos brincos de semente e fomos vítimas do Bruno como motorista. Bom, você me disse que ia casar e fiquei supresa, mas você disse com uma certeza que me calou. Belle vai casar com o Vinicius, aquele carinha de Maricá que era barman em Londres, aquele que aparece nas fotos com ela em Rio das Ostras. Exato, aquele que ela pegou em Ilha Grande. Essa menina não é fácil!
Depois de tantas aventuras, bagunças e doideiras nessa nossa trajetória, como a gente poderia pensar que seu caminho pro altar seria diferente? Foi o que pensei quando deu 11 da noite e ainda estávamos na costureira, no Méier: dia anterior ao casamento, bordávamos seu vestido.
Fazendo um casamento personalizado no esquema "pacotão"
O
casamento da Bebel foi um desafio pro meu método de trabalho. Em
Maricá, como deve ser comum aos municípios da Região dos Lagos e em
muitas cidades mais pro interior, essa coisa de casamento personalizado,
de DIY, de cerimonial e assessoria costuma ser visto como algo meio
desnecessário. O raciocínio faz todo o sentido, hoje eu percebo: se
minha prima é dona de um buffet, se minha comadre vende salgadinhos, se
sempre fomos felizes com as festas do salão X, porque embarcar num plano
de casamento onde tudo é separado, onde os fornecedores são
desconhecidos e onde o risco de acabar gastando mais do que o planejado
fica assombrando?
Confesso
que até a Bell me chamar pra dar uma mão no casamento eu fiquei
bastante preocupada porque, bem, nunca escondi meu preconceito contra o
kit festa-pacotão, não é? Como eu ia harmonizar um conjunto de serviços
amarrados + a grana disponível + a montagem de um casamento que fosse "a
cara dos noivos"? Ainda mais quando ela era lá toda amante de Los
Hermanos, cabelos selvagem e brincos de semente e ele naquele vizu
british, cheio de simpatias pelo punk anárquico...! Uma recepção
tradicionalzona e de aspecto repetitivo não ia ter nada a ver! Por outro
lado, precisávamos respeitar e fazer algo que fosse gostoso também pra
galera mais tradicional, pros familiares. Pânico! Foi a Bell quem me
acalmou: Prillzoca, se não der pra fazer um negócio mais personalizado, deixa pra lá, vamos ser práticas. Do
começo ao fim - com alguns momentos bridezillescos, normal né, a Bell
foi prática. Cheguei a mencionar que o casamento seria dali há 4 meses?
A
epifania da solução apareceu na primeira visita ao buffet Bianca
Festas. Cara, a gente tem que manter a mente aberta nessa vida... a
Janaína, coordenadora do Buffet, tem um acervo imenso! Muitos e muitos
itens, negocinhos, toalhas, passadeiras, guardanapos em diversos
materiais e estilos. Fiz uma espécie de inventário de tudo que poderíamos usar. Apesar dos olhares de are you on crack
misturei juta com provençal, metal com marrom, espelhado com lanterna
marroquina. Abrimos mão do esquema "fechar evento por cor", decidimos
por uma paleta - lilás, pistache e violeta - e catamos tudo do buffet
que se encaixasse nela e no conceito lúdico+rústico+tradicional.






Buscando
complementar o acervo e adicionar os toques de personalização, fomos à
Saara e compramos alguns laces como passarinhos de palha e fitas pra
fazer um varal. Isabelle encomendou no Elo7 mini xícaras e, com uma
florista local, negociou mini cactus. Aquelas "pequenas coisas" fizeram
toda a diferença e o resultado da decor ficou único, mesmo tendo
originado de um kit festas. E vimos que era bom.
Montei um
projeto pra lá de safado, meu primeiro projeto, usando o paint e o word e
repassei-o pro buffet. Dali ele foi distribuido pra boleira e pros
floristas.
Mas
gente, nem tudo são flores na vida de Joseph Klimber. Atenção
quadriplicada: não é todo o buffet que aceita que pessoas "de fora" mexam nos seus itens. No dia do casamento, tudo para além do que
naturalmente o buffet estava acostumado a montar ficou ao meu cargo. Se
desse merda, era minha cabeça quem iria pra guilhotina. Sem tempo pra
pensar no pescoço, montei as paradas com uma mão amiga - e meio bolada
com aquela mistura toda - do pessoal do buffet. A partir deste dia,
nunca mais saí de casa sem minha equipe.
E
onde estava a noiva?? Isabelle estava aos cuidados da Ju Sales;
historiadora, maquiadora, amiga em comum e personal chá de camomila de
noivas tentando decidir se mantinha o olhão preto polêmico ou se mudava
pra algo menos ousado. E onde estava o noivo?? Bem, pra variar, o noivo
sempre está zuando com os amigos; um vestido de homem aranha, outro de V
de Vingança.. então tá.
Acabei
não conseguindo assistir a cerimonia. O cerimonial era da própria
igreja, da Pastoral que promove os encontros de casal, se não me
engano, mas gostaria de ter assistido à entrada ao som de Nothing Else Metter na capelinha centenária que fica à beira da Lagoa de Maricá #chatiada
O vestido que ficou pronto às 4 da manhã
Às
vezes fico achando que casamento é um troço feito pra dar errado e que o
papel de uma cerimonialista é garantir pra que as tristezas se resumam a
pequenas merdas que virarão memórias engraçadas pro almoço de domingo.
Isabelle, a história do seu vestido já virou uma memória engraçada?
Gente,
Gorete tinha que ter sido canonizada depois desse casamento!! Porque,
correndo feito uma louca, morando em Maricá e dando aulas em Quintino, a
Bell mal tinha tempo de respirar, que dirá de casar! Ela até escolheu
rápido o modelo do vestido, mas nosso tempo reduzido não deu chance pra
irmos juntas comprar o tecido ou fazer dezenas de provas.
O
resultado foi que, na semana anterior ao pleito, ela chegou pra fazer a
prova final e descobriu APENAS QUE ODIOU O RESULTADO! Ela queria um
negócio sequinho, mais fluido e colado no corpo, mas a gente não tinha
entendido e então estava lá o tulle dando um ar de balé armado ao
vestido! Todo mundo se descabela e Gorete no "calma, caras!", definiu
que ela e Isabelle iriam ao Divino a Madureira catar um tecido que desse ao vestido o caimento desejado.
Aparentemente,
elas se aproveitaram da minha ausência pra formular um plano totalmente
desajuizado: pensar num novo modelo que incluiria um corpo todo de
rendas com pedrarias aplicadas. Não amigas, não, elas não compraram uma
renda inteira pra aplicar, compraram uma pra recortar as florzinhas e encaixar uma por uma
(neste momento em que escrevo, parei pra tomar uma cerveja e aplacar a
crise de risos). Foi na linha de sucessão desses acontecimentos que
cheguei no ateliê da Gorete na noite de sexta-feira e encontrei a) uma
pizza e b) 254 bilhões de florzinhas de renda. As duas loucas lá
bordando! O que é que a pessoa pode fazer nessas horas além de pegar uma
agulha também - como se soubesse segurar numa. Deu no que deu: um
vestido liiiindo que ela só tirou novamente no domingo de noite quando
os cílios postiços desistiram de ficar colados na cara.
A dica de ouro disso: todo vestido de noiva é um processo que começa
dum ponto, dum modelo, e aí, na medida em que vai sendo feito ou
buscado, as coisas podem e devem mudar. O bom de fazer numa costureira
ou estilista é isso, poder participar de cada uma das etapas e descobrir
seu vestido no meio de várias expectativas e fotos de revista.
Epílogo
O
casamento foi o máximo, caras! Belle e Vinícius animadíssimos,
apaixonados, irreverentes. Naquela vibe toda deles. Muitos abracinhos,
muita família, amigos de todas as tribos, gringos e maricaenses, rodinha
de pogo (um beijo, System of a Down). Comida e bebida à rodo, docinhos
e bolo pra quem quis e pra quem não quis como manda a velha tradição.
Nos obrigaram a trazer um pedaço de bolo pra casa que era tão pesado que
tive de colocar em cima da mala de rodinhas, sem sacanagem! O custo
total, incluindo a loucura das rendas e o excêntrico chinelinho
cravejado de pérolas, foi R$18 mil. CHOREM HATERS!
As imagens desse dia + do after party gravata na cabeça são da Drika Landim a quem não poderei nunca agradecer o suficiente por ter aceitado embarcar nessa loucura!
Making of e cabelo: Salão Chez Lu || Make: Ju Sales || Cerimônia: Capela São Pedro || Recepção: Policenter || Buffet, flores, bolo, bem-casados, doces e chocolates: Bianca Festas ||
Lembrancinha: Flores & Ceia Orquídeas (Giselle) + Elo7 ||
Vestido da noiva: Gorete (costureira) || Roupa do noivo: Zara || DJ: Fabio Coimbra ||
Iluminação: Bianca Festas ||
Convites e identidade visual: feito pelos noivos ||
Espumantes: Supermercado Extra (Salton na promoçon)