sábado, 30 de junho de 2012

Arajany & Diogo: casamento carioca com samba, amor e cerveja

- Se você não me chamasse, eu ia descer assim mesmo. Ia entrar nem que fosse com Parabéns pra você, nem que fosse com Love by grace.
Gosto de ler relatos sobre casamentos. A lembrança da beleza de cada minuto, o quanto a noiva estava nervosa e adorável, os docinhos bem postos, as flores frescas, o lugar nobre e os sorrisos generalizados. Tem sempre aquele brilho, aquela sincronia. Qual o segredo dessas pessoas? Desses casamentos? Serão os profissionais? O tempo de planejamento? A grana investida? 
Talvez seja o relato. São as histórias tranquilas e a perfeição que inspiram; sempre a perfeição...

Alguns de vocês sabem que antes de firmar um acordo com os noivos gosto de aplicar um questionário pra conhecê-los, saber se o que eles desejam tem a ver com as insanidades que proponho, pra saber se teremos uma parceria bacana, se de fato posso ajudar em alguma coisa. Cara, não dá pra saber se quando li o questionário da Arajany e do Diogo eu pensei se podia ajudá-los em algo, se eu era a pessoa competente praquilo. O que posso dizer é que fiquei estarrecida. Deixa ver se consigo explicar... havia uma paixão tão transparente ali que a única coisa que uma pessoa que se interessa por paixões poderia fazer era o que fiz, responder que por mim vocês casavam amanhã, serião. Ela contou seus planos: casariam-se em casa, fariam cataventos, o samba ia rolar pra sempre, a comida seria boa e a cerveja farta. Não sei se é certo misturar pessoalidades com a vida profissional, mas eu estava disposta à tudo. Fiz, faria e faço qualquer coisa para respirar um pouco do ar do amor e da intensidade daqueles dois.

Bem, foi Arajany quem cunhou essa lenda de que sou uma cerimonialista ditadora. Gente, isto não é verdade. Foram os acontecimentos e as contigências que nos levaram ao novo arranjo do casamento. Tá certo, insisti pra caralho numa série de coisas - de algumas me arrependo - mas quero que me digam uma coisa: foi errado bater o pezinho no chão insistindo pra que pensássemos em montar o casamento num bar? Não num bar qualquer, num bar lá na Pedra do Sal, um dos berços do samba, num bar onde Pixinguinha tomava seus gorós? Íamos economizar, seria menos estress familiar (casar em casa gera uma série de complicações, não é pra qualquer um não hein) E a comida? Que tal algo mais animado? Sou ditadora? rsss Começamos a virar a internet pelo avesso em busca de um buffet que oferece comida de boteco voltada prum lance mais arrumadinho e classudo. Pegamos um trem e fomos até Marechal Hermes (!!) provar as iguarias do Trinca Ferro e aí veio o pastelzinho de feijoada, veio uma caponata de berinjela e um bolinho de toscana; a boa recepção dos donos do buffet. É esse!
Verdade que tivemos nossos desentendimentos com os caras e que tenho nem um nem dois, mas uns dez palavrões guardados ao Trinca-Ferro (não por conta do serviço, mas das negociações), mas inegável acho que a coisa deu muito certo. Assim, dissemos adeus aos crepes e olá pra roda de samba com petiscos.

Foram 3 meses delirantes e etílicos que culminaram naquela manhã de sábado em que cheguei à Pedra do Sal às 8 e dez da manhã e a encontrei descarregando as coisas do carro enquanto ia me dando o relatório: aqui tão os docinhos, a gente comprou as hortênsias 8 conto na CADEG, aqui tão os papéis, o buquê estragou, a cabelereira tá me esperando, compramos eucaliptos, não aguento mais fazer cataventos, etc etc... 
- Como?! O buquê estragou?? 
- Foi mal olhado essa porra; ela sentenciou. Não dava pra saber se era cansaço, nervosismo ou simplesmente ódio. Resolvi que o melhor era respeitá-la, não fiz mais perguntas e ela tomou o rumo da cabelereira com aquele bundão de passista.

Deixa eu explicar direito como é que funciona esse negócio de Pedra do Sal. A Pedra é, como diz o nome, uma pedra. Ela fica em frente a um largo, uma espécie de pracinha e é nessa pracinha que funciona o bar do casamento, o Botequim Bodega do Sal que é capitaneado pelo André. Lá costuma rolar semanalmente um sambão de raiz, raiz tr00 sabem? O lugar enche pra cacete, a galera canta com a mão no coração e testa a gravidade se pendurando nos muros da vizinhança. Era ali que ia rolar o casamento. Usaríamos o Bodega como base e a rua como salão. Cheguei a mencionar que todo o bairro em que esta dita pracinha se localiza está em obra, parecendo um queijo suíço? Sim, nesta postagem aqui. Mas, olha, isso era o de menos, já tínhamos nos conformado, o drama inesperado pra mim foi chegar e descobrir que.. bróder! a Pedra tava tomada de sujeira do samba que rolara na noite anterior. Neste momento, neste exato momento, me desesperei.

Pra sorte de todos, minhas ajudantes de Papai Noel, Lívia Jácome e Renata Motta, estavam por lá e iniciamos os trabalhos. Eu e Renata vivendo um dia de princesa tristeza empunhando vassouras e catando chapinha do paralelepípedo com as unhas e a Lívia montando os arranjos florais, entre outras decoratividades. Nem os testemunhas de Jeová que passaram ali pararam pra pregar, ficaram com dó, "deixa as meninas". Uma vizinha ofereceu a mangueira. A população curiosa começou a amontoar num WTF?! de cidade pequena. Duas horas preciosas foram gastas na limpeza e por isso dei graças a Deus quando, faltando 20 minutos pro casamento, disseram que 3 padrinhos não tinham chegado ainda. Diogo estava nervoso, repetia que não queria mais casar, que era muito estressante, passava a mão na testa e suava. A Renata trouxe cerveja pra ele e descolou um ventilador. Lá em baixo na rua (estávamos no 2º andar do bar), a Lívia tentava equilibrar os arranjos de flores enquanto uma ventania doida prometia derrubar tudo. Eu tentava colar o painel de cataventos na parede tombada pelo Patrimônio e pensava se era possível meu pé estar mais preto. 
Desceu a maquiadora, entrou na montagem. A irmã do noivo tirou o salto, pôs uma havaiana e foi agitar o que necessitasse, acalmar o povo, meu marido chegou, os padrinhos chegaram... Chegaram todos? 
Foi aí que veio a bomba.

Cês entendem de samba? Então, a Arajany sonhava entrar ao som de uma roda de samba. Diogo é músico, reuniu o povo,essa parte foi tranquila! Mas você pode fazer samba numa caixa de fósforo, pode levar qualquer coisa simples só no vocal, mas não pode fazer uma noiva entrar na roda de samba se você não tem um cavaquinho. O cavaquinho é a harmonia! Já havia se passado quase duas horas e meia do horário marcado pra chegada dos músicos, até São Jorge já tava posicionado menos o cavaquinho. O músico tinha falado com a gente pelo telefone, já tava chegando, jurou, só precisava pegar o instrumento ali na puta que pariu e já vinha. 
Gelei, morri três vezes, mas era o momento de subir a Pedra, ir até o Ateliê Bordado Carioca, onde a Arajany tava se arrumando e propor com cara de enterro: gata, o cavaquinho não vem. Bora casar assim mesmo? 
- Por que você não falou logo?? Eu quero que se foda, me deixa descer, vou casar agora, não quero nem saber!
Assim, levantou a barra do vestido e saiu pela rua toda quebrada rumo a escadaria da Pedra. Lá do alto - porque eu tinha esquecido o rádio transmissor - comecei a sinalizar pra Lívia liberar os padrinhos. Eles entenderam que eu tava dando tchau e passaram a acenar alegremente. A noiva se calçou amparada pela madrinha. A mãe da minha querida amiga faleceu quando ela era menina e a madrinha, essa mãe escolhida pelo destino, entraria com ela. Selecionei as músicas no computador do DJ, tudo do Youtube. Começou a tocar "Pressentimento", Roberta Sá na veia (ouçam!) e ela nem sei como desceu aquelas escadas de saltão, linda! Linda! O buquê de hortências feito à toque de caixa pela sogra. Linda! 

O mundo sempre dará boas vindas aos amantes. 
Celebrado pelo Rafael, meu marido (tadaaaa), o casamento transcorreu com uma leveza e uma beleza que nem sei de onde veio, depois de tanta loucura, desventuras e falta de dinheiro. Quando ela entrou todo mundo aplaudiu, até as pessoas na rua! Parecia final de novela! O Rafa falou umas coisas lindíssimas sobre que mistério é esse do encontro e do amor que vem e acontece? Disse também que através aquela celebração, daquele momento nascido do mistério, Arajany e Diogo nos escolhiam pra que fizéssemos também parte da vida deles, do amor deles. Não sei se consigo explicar a força dessas palavras; era só o que queríamos, fazer parte, ser com eles. 

Dançamos todos a "Dança da cordinha", comemos, bebemos e, obviamente, sambamos - o cara do cavaquinho chegou numa dada hora, nem vi. Arajany em cima dum banco da praça, descalça, dançava delirante e Diogo cantando pra ela. O buquê foi jogado sem hora marcada, por puro furor do momento. Foi simplesmente inacreditável. Tudo podia ter dado errado, entendem? As pessoas diziam que não podia dar certo e foi lá e deu porque eu e ela ralamos pra cacete e porque era pra ser.

No fim, desmontamos tudo e nos despedimos. Não lembro do que falamos uma pra outra, acho que coisas relacionadas a cadeiras e coisas a pagar. O Rafa pegou uns docinhos e eu uma garrafa de espumante que tinha sobrado. Nos duas nos abraçamos e fiquei lá chorando enquanto o carro partia em direção à Zona Portuária. O resto sumiu enquanto esperávamos o ônibus e eu tomava o prosecco no gargalo em frente ao Píer Mauá.



 

Os noivos + Eu e o Rafa: fim de festa, dever cumprido, amizade selada!
Saiu até no Jornal O Dia!! hahahahahaha

FICHA COMPLETA
Vestido: Ateliê Gorete | Véu: Ateliê Gorete + Vou Casar e Panz | Maquiagem: Ju Sales | Sapatos: Sonho dos Pés | Making of: Ateliê Bordado Carioca | Buquê: mãe do noivo | Roupa do Noivo: Saara + Ateliê Gorete | Local da cerimônia e recepção: Botequim Bodega do Sal | Celebrante: Rafael Santana | Decoração: noiva e Vou Casar e Panz | Móveis: Mineirart | Buffet: Trinca-Ferro | Bolo e cupcakes: Doce Sabor | Doces: RR Delícias | Lembrancinhas: Kit ressaca, noiva + Vou Casar e Panz | Convite e papelaria: Vou Casar e Panz (ilustração de Kelly Ratton) | Fotografia: Fabio Moro | Cinegrafia: Flávio Jobim

8 comentários:

Nathy disse...

Acho que posso dizer que me empolguei, emocionei, desesperei, tudo em um relato só. Que duro! Nossa, mas são casamentos assim que marcam e você vê que realmente valeu a pena. Nossa, parabéns!

Luane disse...

Priscilla, eu ame seu depoimento... e acho que até meio que chorei...rs...

Tudo ficou MUITO lindo, o importante é que o casamento tenha sempre a cara dos noivos.

Lendo, no final vi a ficha completa, e vi escrito "Atêlie Gorete", eu estou sem vestido de noiva (na verdade estou sem quase nada ainda) mas o vestido esta me preocupando MUITO, se caso vc possa me ajudar em me passar como referencia esse Atêlie eu agradeceria...

Quase um ano depois eu vou finalmente casar (amém).

=)

Luane disse...

Ah! Meu e-mail: luanepacheco@msn.com

Drika disse...

gente, que tenso! tô aqui com o coração em chamas!
mas, o amor faz dar certo!
e a dedicação e competência dão uma ajuda e tanto!
Parabéns!
E felicidades aos noivos!!!

SUI disse...

Esse casamento é mais do que lindo!!!Tem alegria, beleza, amor e samba!!!!bjs

te seguindo...

www.umdiadecadavez-sui.blogspot.com

Anônimo disse...

que casamento lindo...até me arrepiei


bjos

respireecase.blogspot.com.br

Bruna Worspite disse...

Que belíssimo esse casamento!
Quando é bem a cara dos noivos tudo fica tão lindo!

Eu amei =D
Bjs
http://www.tibra.com.br/Site/universidade/imarketplace/empresa/planos

Anônimo disse...

Mais um chororô de minha parte! Amei, amei e amei! =)

Sabe, é o que eu sempre digo, simplicidade, delicadeza, amor e originalidade. Não precisa de mais nada!

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